26/04/13

quem foi que me roubou o sol ?



Será para sempre?

Tal como hoje o 25 de Abril de 1974 aconteceu a uma quinta-feira
Sai para a escola, como todas as manhãs o fazia.
 Nada de anormal até chegar mos junto do velhinho portão da não menos velhinha escola normal (escola da rampa) na cidade do Porto.
 Quando fui impedido de entrar na escola por um militar, regressei ao meu internato
 Fui encaminhado para a sala dos castigos, se tinha de ir para a escola ia e Ponto, ninguém na opinião do diretor da instituição o podia impedir (!)
Depois de umas reguadas fui posto de castigo na parada de pé sem me poder mexer, e comecei a ouvir os carros que buzinavam pela rua da Alegria a baixo e subiam pela rua Dão João 4º, os tons deixavam no ar uma melodia intimidatória mas com cheiro a fim, mais ou menos ensaiadas as buzinas num somatórios de ruídos diziam «piiiipiiippiiidedededdddeeeee» (PIDE) horas depois silenciaram-se e fomos percebendo com o decorrer do dia o que tinha acontecido.
Falaram – nos que íamos ter mais liberdade e menos para comer porque os soldados não saberiam tomar conta de nos …
Ficamos assustados, não sabíamos o que era a liberdade, já da fome, dessa tínhamo-la sempre presente.
No domingo seguinte, quando nos dirigíamos para o Estádio das Antes para trabalhar fomo-nos apercebendo que algo não estava bem e que o país tinha mudado, em cada lado, em cada rua, em cada edifício, até no portão do cemitério havia um soldado com uma arma.
Depois, depois retomamos tudo de novo e os professores que passaram a ir para as aulas sem cortar a barba explicaram-nos o que realmente tinha acontecido.
Que o”” seterino “” o Sr. Vitorino que tomava conta de nos já não nos ia bater por tudo e por nada, que o diretor se nos bastece os soldados iam lá e levavam – no para a cadeia por ele nos dar porrada, que já não tínhamos que ir pedir as sobras do peixe nas bancas do mercado do Bolhão para comermos com a farinha de pau no sábado, que tudo ia ser diferente …
Hoje passados trinta e nove anos (39) percebi que afinal fui “enganado” que afinal qualquer um nos pode dar porrada que já não podemos falar, não podemos ter opinião, que não passamos de meros dados de estatística, que a apregoada liberdade de expressão, a democracia, essa só se tal como o ditador dizia “quem não esta do nosso lado esta contra a nos ” afinal foi um sonho lindo, um sono profundo mas que como todo acaba quando acordamos, os que hoje se dizem democratas fazem pior do que os senhores do chapéu preto, a tortura é diferente mas o intuito o mesmo, eu sei por experiencia própria o que é ser discriminado por ter acreditado que afinal tudo seria diferente e que também eu diferente podia ser e não seria diferenciado por isso, que os maus tinham fugido para Espanha e para o Brasil, mais uma vez enganei-me hoje fazem discursos como sendo os donos dos ideais de Abril, mas no silencio do odio e do poder, aqueles que não se lhe vergaram.
Silenciosamente tiram – nos direito á dignidade.
Não tenho medo dos que sempre pensei que eram contra aos ideais de Abril, tenho medo daqueles que os apregoam e os violam, desses eu tenho medo, muito medo …
Obrigado MFA,
Obrigado Salgueiro Maia
Viva Abril
Rodrigo Oliveira




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