Será para sempre?
Tal como hoje o 25 de Abril de
1974 aconteceu a uma quinta-feira
Sai para a escola, como todas as
manhãs o fazia.
Nada de anormal até chegar mos junto do
velhinho portão da não menos velhinha escola normal (escola da rampa) na cidade
do Porto.
Quando fui impedido de entrar na escola por um
militar, regressei ao meu internato
Fui encaminhado para a sala dos castigos, se
tinha de ir para a escola ia e Ponto, ninguém na opinião do diretor da instituição
o podia impedir (!)
Depois de umas reguadas fui posto
de castigo na parada de pé sem me poder mexer, e comecei a ouvir os carros que
buzinavam pela rua da Alegria a baixo e subiam pela rua Dão João 4º, os tons
deixavam no ar uma melodia intimidatória mas com cheiro a fim, mais ou menos
ensaiadas as buzinas num somatórios de ruídos diziam «piiiipiiippiiidedededdddeeeee»
(PIDE) horas depois silenciaram-se e fomos percebendo com o decorrer do dia o que
tinha acontecido.
Falaram – nos que íamos ter mais
liberdade e menos para comer porque os soldados não saberiam tomar conta de nos
…
Ficamos assustados, não sabíamos o
que era a liberdade, já da fome, dessa tínhamo-la sempre presente.
No domingo seguinte, quando nos dirigíamos
para o Estádio das Antes para trabalhar fomo-nos apercebendo que algo não estava
bem e que o país tinha mudado, em cada lado, em cada rua, em cada edifício, até
no portão do cemitério havia um soldado com uma arma.
Depois, depois retomamos tudo de
novo e os professores que passaram a ir para as aulas sem cortar a barba explicaram-nos
o que realmente tinha acontecido.
Que o”” seterino “” o Sr.
Vitorino que tomava conta de nos já não nos ia bater por tudo e por nada, que o
diretor se nos bastece os soldados iam lá e levavam – no para a cadeia por ele
nos dar porrada, que já não tínhamos que ir pedir as sobras do peixe nas bancas
do mercado do Bolhão para comermos com a farinha de pau no sábado, que tudo ia
ser diferente …
Hoje passados trinta e nove anos
(39) percebi que afinal fui “enganado” que afinal qualquer um nos pode dar
porrada que já não podemos falar, não podemos ter opinião, que não passamos de
meros dados de estatística, que a apregoada liberdade de expressão, a democracia,
essa só se tal como o ditador dizia “quem não esta do nosso lado esta contra a
nos ” afinal foi um sonho lindo, um sono profundo mas que como todo acaba
quando acordamos, os que hoje se dizem democratas fazem pior do que os senhores
do chapéu preto, a tortura é diferente mas o intuito o mesmo, eu sei por
experiencia própria o que é ser discriminado por ter acreditado que afinal tudo
seria diferente e que também eu diferente podia ser e não seria diferenciado
por isso, que os maus tinham fugido para Espanha e para o Brasil, mais uma vez enganei-me
hoje fazem discursos como sendo os donos dos ideais de Abril, mas no silencio
do odio e do poder, aqueles que não se lhe vergaram.
Silenciosamente tiram – nos
direito á dignidade.
Não tenho medo dos que sempre
pensei que eram contra aos ideais de Abril, tenho medo daqueles que os apregoam
e os violam, desses eu tenho medo, muito medo …
Obrigado MFA,
Obrigado Salgueiro Maia
Viva Abril
Rodrigo Oliveira
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